O Centro Knight para o Jornalismo nas Américas encerrou seu curso online “Jornalismo Hiperlocal” com uma taxa de conclusão recorde de 95%. A jornalista argentina Sandra Crucianelli, premiada internacionalmente, ministrou o curso em espanhol, de quatro semanas, pela segunda vez.
Dos 60 jornalistas de 13 países, 57 completaram satisfatoriamente o curso, que terminou em 29 de maio. “Sem dúvida, esse foi um dos cursos mais bem sucedidos que já ministrei”, disse Crucianelli. “Pelo alto número de aprovados, mas também pelo elevado nível de interação entre seus participantes, algo que nem sempre acontece no ensino virtual”, acrescentou.
Participaram profissionais dos seguintes países: Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Espanha, México, Nicarágua, Peru, Estados Unidos e Venezuela.
O curso teve como foco a criação e a operação de sites dedicados à cobertura local e foi dividido em módulos semanais. “Os meios hiperlocais são uma tendência”, afirmou Crucianelli. “São veículos cujos conteúdos se referem a uma zona geográfica específica. Seu conteúdo geralmente não aparece nos meios de comunicação tradicionais e as fontes são variadas”.
O uso das mídias sociais pelos sites de jornalismo hiperlocal também foi discutido no curso. Motivado pelas palavras de Crucianelli , um jornalista gerou polêmica no México ao aplicar o que aprendeu.
Ernesto Alonso Lopez, diretor do site ClasePolitica.com, escreveu no Twitter que o governador de Sinaloa, Mario López Valdez, sorteou três carros entre jornalistas, usando dinheiro público. “(Os carros) Custaram ao todo 240 mil pesos mexicanos, segundo o próprio governador, que mais tarde justificou o gasto dizendo tratar-se de uma execução do orçamento para a imprensa pública de 2011″, explicou o jornalista.
O sorteio dos carros, em comemoração ao “Dia da Liberdade de Expressão”, foi anunciado pelo gabinete do governador, mas não repercutiu na imprensa tradicional. Isso deixou Lopez preocupado. “O assunto não teria merecido atenção dos meios privados se não tivéssemos noticiado o custo dos veículos, quem os comprou e como o fez. Ou seja, informamos o público de um ato muito questionável do ponto de vista ético — um conluio entre o governo e a mídia privada”.
Por causa dos tweets, a história foi repercutida por blogueiros, uma emissora de rádio e outros veículos de imprensa, motivando uma discussão sobre o uso de dinheiro público para presentear jornalistas. López comemorou o debate, mas também demonstrou preocupação com a vida curta das discussões.
“É um exemplo de como as redes sociais prestam um serviço importante aos jornalistas, não apenas para encontrar fontes, como também para conseguir furos”, disse Crucianelli, sobre a atuação de López. “Quando nós, professores (que também somos jornalistas), trabalhamos para inspirar nossos colegas — sinto que fazemos parte de um processo evolutivo importante no jornalismo digital, um processo que, sem dúvida, deixará uma marca”, acrescentou.
Além das aulas, discussões e fóruns online deram aos jornalistas de diferentes países outra perspectiva da discussão. “O que mais me agrada é conhecer experiências e formas de pensar de outros jornalistas e como eles trabalham em seus próprios meios”, disse López.
“A interatividade do curso me surpreendeu. É preciso dizer que uma parte dos comentários era meramente social, mas a participação, as sugestões e as opiniões da maioria dos participantes acrescentaram muito”, afirmou o jornalista venezuelano Hans Graf.
A maioria dos alunos ficou satisfeita com o curso e elogiou a atuação de Crucianelli, que ensinou a eles como as ferramentas online podem ajudá-los no trabalho diário. Nas avaliações anônimas, um participante escreveu: “A utilização de ferramentas de geolocalização, entre outras, foi de grande utilidade e permitiu que eu pudesse aplicá-las imediatamente em meu trabalho”.
“Conheci várias ferramentas digitais que eu não fazia idéia de que podiam ser usadas para a busca de informações”, disse outro.
Mas, no fim das contas, foi o conceito de jornalismo hiperlocal de Crucianelli que mais impressionou os jornalistas. Um aluno afirmou: “Aprendi a fazer jornalismo hiperlocal e satisfazer necessidades que, na realidade, são as demandas da população, dando voz a que não tem”.