11 janeiro, 2022

Como evitar erros ao cobrir coletivas de imprensa sobre COVID-19 na África Ocidental

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Kossi Elom Balao
Kossi Elom Balao é um jornalista de ciência premiado e Gerente de Comunidades em Francês do Fórum de Cobertura da Crise Global de Saúde do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, na sigla em inglês). 

Este artigo especial também está disponível em inglês, francês e espanhol.

 

LOMÉ, Togo – A crise global da saúde revelou como o público está sedento por notícias sobre ciência, como o trabalho dos jornalistas é essencial e que informações confiáveis, rigorosas e não manipuladas podem salvar vidas.

A crise também mostrou que, com todas as incertezas, polêmicas e teorias da conspiração surgindo contra a pandemia de COVID-19, os consumidores de notícias querem que os jornalistas respondam às perguntas e esclareçam dúvidas.

Covering COVID-19 in the Global South

É aí que entra o papel crucial do jornalista: buscar e coletar informações de especialistas, cientistas e acadêmicos qualificados cujas competências sejam comprovadas.

Acontece também que os jornalistas obtêm informações durante as conferências de imprensa organizadas pelas autoridades de saúde para acompanhar as últimas notícias sobre o surto de coronavírus, como é o caso na África Ocidental e em outros lugares.

Entretanto, ao participar dessas conferências, quais são as atitudes corretas a serem adotadas? Como os jornalistas podem estar mais bem preparados para cobrir esses eventos sem cair na armadilha dos organizadores? Que truques podem usar para evitar serem vetores de desinformação? Como devem lidar com as declarações do governo sobre o combate à doença? Como podem ter certeza de que estão fornecendo informações rigorosas, precisas e confiáveis? Abaixo, fornecemos algumas dicas para ajudar você a lidar com essas perguntas.

Ter uma boa compreensão da situação na área da saúde

Durante as coletivas de imprensa sobre a COVID-19, “parece que os jornalistas têm medo de fazer perguntas”, diz Noël Kokou Tadegnon, jornalista da Deutsche Welle e Reuters e cofundador da Togo Check, uma plataforma togolesa que luta contra a desinformação.

“Esse medo pode ter vários motivos”, explica Milo Milfort, fundador do jornal investigativo Enquet’Action. Ele citou a falta de domínio do assunto e de preparação antes da coletiva de imprensa. Mas há outra coisa, diz ele: “a saúde é um assunto menos abordado por jornalistas”.

No Senegal, Ndiol Maka Seck, jornalista e chefe de redação do jornal diário nacional Le Soleil, que cobriu várias conferências sobre a COVID-19, observou que os jornalistas “estão mais em posição de ouvir do que de fazer perguntas”.

Durante esses eventos, diz ele, médicos e outros especialistas epidemiológicos muitas vezes monopolizam a discussão porque sabem pouco sobre a doença. E os jornalistas, acrescentou, têm a responsabilidade de resumir essas sessões.

Os jornalistas devem ficar calados ou ocupar a posição de observadores? A resposta dada pela jornalista científica Lise Barnéoud é muito simples. Barnéoud, autora do livro “Immunisés? – Um novo olhar sobre as vacinas”, acredita que é importante que os jornalistas façam as perguntas que precisam para entender o que está em jogo e as perguntas que precisam fazer de acordo com seu próprio conhecimento, o ângulo de sua história e seu meio de informação.

“Eles também devem levar em conta a realidade de seus países”, diz Adrienne Engeno Moussang, jornalista camaronesa e coordenadora da revista Sciences Watch Infos. “Quando uma jornalista decide escrever sobre a COVID-19, ela deve ter um amplo conhecimento da situação da doença em seu país, os números e as medidas que foram tomadas”.

Tadegnon insiste em outro aspecto: jornalistas precisam estar bem informados. “Eles devem entrevistar diferentes fontes e dominar o assunto antes de ir a uma coletiva de imprensa. Devem ler trabalhos de outros colegas, qualquer documento relacionado à pandemia e, acima de tudo, devem estar na vanguarda das notícias relacionadas à crise. ”

Três abordagens para cobrir conferências de imprensa

Em um mundo ideal, os jornalistas que cobrem esses temas já deveriam ter uma sólida compreensão das informações básicas: imunologia, vacinologia, os diferentes tipos de vacinas, etc. “Infelizmente, sabemos que não é o caso”, diz Barnéoud.

Ela descreve várias maneiras de cobrir uma conferência de imprensa sobre a COVID-19.

Primeiro, ela disse, os jornalistas podem optar por escrever uma notícia onde novas informações são reveladas. Em segundo lugar, eles podem produzir uma história detalhando a alfabetização científica e informações básicas sobre temas complicados para torná-los mais acessíveis e compreensíveis. Essa abordagem é valiosa, diz Barnéoud, porque permite que as pessoas entendam como, por exemplo, o vírus é transmitido e como medidas de precaução e vacinas se somam para reduzir o risco de contaminação.

Jornalistas também podem optar por escrever um artigo investigativo sobre um ângulo específico.

Geralmente, cobrir uma coletiva de imprensa por si só não é suficiente. Barnéoud aconselha, portanto, completar a investigação com outros elementos.

Todas as três abordagens são necessárias e legítimas, disse Barnéoud, exceto que não envolvem os mesmos tipos de perguntas.

Verificando as notícias

Na Guiné, alguns jornalistas estão fazendo um ótimo trabalho, mas outros simplesmente “confiam nas informações fornecidas pelas autoridades”, diz Facely Konaté, diretor da Radio Espace Forêt. “Quando você ouve as reportagens deles na rádio, você sente que isso não é jornalismo, mas comunicação. Há uma diferença entre informar e comunicar”.

O trabalho do jornalista não é copiar comunicados de imprensa, nem consiste em limitar-se a cobrir as declarações das autoridades de saúde sem as verificar, cruzar e analisar. Os jornalistas devem conhecer as ferramentas certas para desmascarar informações erradas sobre a COVID-19.

Quando jornalistas têm dúvidas sobre se as declarações dos organizadores das conferências de imprensa refletem a realidade, cabe a eles verificar essas declarações. Isso pode ser feito de várias maneiras, diz Sylvio Combey, jornalista, instrutor e fundador da agência de notícias Africa Rendez-Vous.

Ele aconselha os jornalistas a “consultar e comparar os dados disponíveis”. Muitas vezes, há muitos dados abertos que não são conhecidos. Ele também recomenda consultar declarações anteriores e outras fontes ou pessoas que possam estar envolvidas.

Segundo Combey, informações contraditórias podem estar disponíveis em sites de notícias ou redes sociais dessas fontes, ou em reportagens em vídeo. Os jornalistas podem até contatar testemunhas ou especialistas no assunto. Sua opinião lhes permite confrontar as declarações feitas, acrescentou.

Depois de pesquisar as alegações e questionar outros especialistas, os jornalistas podem retornar à autoridade, pedindo esclarecimentos sobre as declarações feitas. O repórter deve então contextualizar a afirmação na história e fornecer todos os fatos.

De acordo com Milfort, jornalistas que não são especialistas em questões de saúde e que querem cobrir uma conferência sobre o assunto devem ser treinados. Isso evitaria “fazer perguntas erradas e inadequadas nas coletivas de imprensa sobre a COVID-19”.


Sobre este artigo
Esta história faz parte de uma série de artigos escritos por jornalistas de ciência/saúde que ofereceram as melhores práticas e percepções sobre a cobertura da COVID-19. Esses artigos estão sendo publicados como parte de uma iniciativa do Centro Knight patrocinada pela UNESCO e com financiamento da Organização Mundial da Saúde. Para ler mais sobre os artigos, clique aqui. Além disso, acesse os artigos em vários idiomas aqui:

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O evento, realizado em inglês, terá tradução simultânea para árabe, francês, português e espanhol. Clique aqui para se inscrever.

Este webinar está sendo organizado pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas em parceria com a UNESCO e com financiamento da Organização Mundial da Saúde e do Programa Multi-doadores da UNESCO sobre Liberdade de Expressão e Segurança de Jornalistas.

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