A jornalista brasileira Cristina Tardáguila quer construir um exército global de checadores na América Latina e no Caribe. “Qualquer um pode se tornar um checador”, disse Tardáguila, diretora adjunta da International Fact-Checking Network (IFCN).
“Podemos até dar um passo adiante, todos podem e devem se tornar checadores. Porque os checadores não vão resolver esta questão [da desinformação] por si próprios. Se a capacidade de avaliar a veracidade dos conteúdos não estiver amplamente difundida em nossa sociedade, vamos ter problemas”, disse Tardáguila.
E ela tem pressa em formar esse exército de checadores devido aos enormes problemas de desinformação que cercam a pandemia do coronavírus.
Como parte da estratégia de batalha, Tardáguila vai dar o próximo curso online aberto massivo do Centro Knight (MOOC), “Desinformação e Checagem de Fatos em Tempos de COVID-19 na América Latina e no Caribe”.
Oferecido em Espanhol, Português e Guarani entre 15 de fevereiro e 14 de março, este curso online gratuito é produzido pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, como parte do projeto “#CoronavirusFacts, Addressing the‘ Disinfodemic ’on COVID-19”, que é implementado pela UNESCO e financiado pela União Europeia.
As inscrições para o MOOC estão abertas. Veja aqui mais informações sobre o programa e sobre como se inscrever para as versões em Espanhol, Portuguêse Guarani.
“A batalha contra a infodemia é provavelmente a maior batalha que os checadores já enfrentaram”, disse Tardáguila, referindo-se à “epidemia” de desinformação que vem agravando a pandemia COVID-19 em muitos países.
As razões são três.
“Tem sido uma maratona. Tudo começou em janeiro de 2020, já faz um ano e não parece que está nem perto do fim”, explicou ela.
O segundo motivo está relacionado a boatos que foram desmascarados, mas de alguma forma voltaram à vida –o que Tardáguila chama de “boatos zumbis”.
“Temos desmascarado conteúdo muito semelhante por várias vezes ao longo do ano”, disse ela. Grande parte dessa desinformação surge em um país e, meses depois, aparece em outros.
“Dá para ver que o vírus traz a doença, mas também traz os boatos”, disse Tardáguila. No caso da América Latina e do Caribe, o vírus e os boatos chegaram meses depois do que em outras partes do mundo, o que representa um outro desafio.
“O terceiro motivo é que você percebe que há muito a ser feito por outras pessoas”, disse Tardáguila. “Estou dizendo que checadores por si só não podem resolver o problema da desinformação.”
Como parte do MOOC do Centro Knight, Tardáguila também vai ensinar sobre fact-checking sobre vacinas produzidas para combater o coronavírus. Como ela explicou, elas têm seu próprio conjunto de boatos relacionados a tópicos como infertilidade, deformação física, tecnologia e vacinas falsas.”
Por meio do IFCN, do Instituto Poynter, Tardáguila coordenou a #CoronavirusFacts Alliance, que reúne 99 organizações em 43 países que trabalham em 77 idiomas e 16 fusos horários diferentes para verificar informações sobre a pandemia COVID-19.
As checagens são publicadas em um banco de dados disponível em Inglês, Espanhol e Português, mas também são compartilhadas por meio da hashtag #CoronavirusFacts nas redes sociais. A aliança publicou mais de 10.300 checagens de fatos até o momento.
A IFCN foi recentemente indicada para o Prêmio Nobel da Paz pela legisladora norueguesa e ex-ministra da Cultura e Educação, Trine Skei Grande.
“‘Na guerra, a verdade é a primeira vítima. E vivemos em uma época em que lutar contra as mentiras é tão importante”, escreveu Skei Grande via Twitter. “Este ano, indiquei os checadores para o Prêmio Nobel da Paz. Eles precisam do nosso apoio.”
Os anos de experiência de Tardáguila na comunidade de fact-checking mostraram a ela o que um bom verificador de fatos deve ter.
A característica número um é estar “pronto para duvidar”, explicou a jornalista.
“A segunda coisa que você precisa é estar pronto para gastar tempo lutando por dados. Os dados não são fáceis de encontrar. E dados confiáveis são ainda piores”, acrescentou ela.
Os checadores precisam aprender a lidar com diferentes tipos de boates e falsidades, explicou Tardáguila.
“Os que estão sendo compartilhados de forma inocente, a solução é educação e muito treinamento e muita paciência”, disse ela. “Também precisamos aprender a lidar com a desinformação coordenada e intencional, e isso exige um debate claro sobre regulações, o que as plataformas podem ou não fazer e também sobre ferramentas para tornar os checadores mais rápidos e precisos.”
Apesar desses desafios, Tardáguila segue em frente para construir um exército de checadores que possa combater a desinformação que é comum em grande parte do mundo, incluindo em seu continente natal.
“Nós realmente precisamos de um exército de checadores na América Latina e no Caribe”, disse ela. “Nossas instituições não são tão fortes quanto as dos Estados Unidos e não são tão fortes quanto as europeias. Portanto, se não lutarmos pela verdade em nossa região, nossas democracias vão estar em risco. ”
Se inscreva agora para o curso online gratuito de Tardaglia em Espanhol, Português e Guarani.